O cabeleireiro Roger Naumtchyk, filho adotivo de Cid Moreira (1927-2024), descreveu como teriam acontecido supostos abusos do pai. Ele foi morar com o jornalista aos 14 anos, por intermédio da tia, Maria Ulhiana Naumtchyk, com quem o ex-âncora do Jornal Nacional era casado. O profissional de beleza afirma que o assédio começou logo cedo e que o processo de adoção formal foi feito para evitar burburinhos. O apresentador sempre negou qualquer tipo de violência, afirmando que o herdeiro estava o "perseguindo" e "inventando histórias que nunca aconteceram".


Anos depois, em 2004, Roger assumiu seu primeiro relacionamento. O pai teria ficado com ciúme e dado um jeito de se livrar do filho. "[Ele falou] Que eu não poderia trabalhar com ele na gravação da Bíblia, que tinha que sair de casa e ir para o salão de beleza, que combinava mais. E Fátima [Sampaio, terceira mulher do jornalista] disse que eu não poderia continuar nos trabalhos da Bíblia, porque sendo gay mancharia a imagem do Cid", revelou ele, em entrevista ao jornalista Valmir Moratelli, da Veja.

Cid ainda teria tirado um apartamento e um estúdio de som que havia construído ao filho. Roger até deixaria tudo para lá, mas, depois de alguns anos, ele se deu conta do que realmente havia acontecido quando era mais novo.

"Nessa época, para mim, aquilo não era estupro ou assédio. Não considerava um abuso, nem imaginava o que era aquilo. Só agora, mais recente, entendi que fui abusado. Um tipo de estupro", cravou ele, que narrou sua história com o apresentador.

Natural do Rio Grande do Sul, Roger foi passar uma semana com a tia no Rio de Janeiro em 1990. Cid teria gostado tanto do menino que decidiu chamá-lo para morar lá. Mesmo aos 14 anos, o rapaz era tratado como uma espécie de secretário. A família de Roger, de origem humilde, pensou se tratar de uma grande oportunidade.

Sonho virou pesadelo

"Depois de uns dois meses morando com ele, voltando para dentro de casa, me deparei com ele fora da sauna completamente nu. Aquela situação me deixou em choque, a gente está falando em 1990. Eu era ingênuo em relação a isso. Subi logo ao escritório. Pouco tempo depois ele começou a dar uns gritos na sauna e desci correndo, achei que ele tivesse se machucado. E aí vi que ele estava se masturbando", contou.

Ele afirmou que, mais tarde, descobriu que o episódio era corriqueiro --e que todos os funcionários ouviam os gritos do apresentador e sabiam o que estava acontecendo. "Algum tempo depois, comecei a fazer a sauna com ele a seu pedido. Era 24 horas com ele, se ele ia para a Globo, eu ia também. Eu era sua sombra, considerado o carregador de malas, na Globo falavam que eu era ‘garotão do Cid’. Mas ele me tratava como filho. Até que um dia, nessas saunas, ele pediu para que eu passasse a ajudá-lo na masturbação."

O rapaz, no entanto, não pensava estar sofrendo um abuso naquele momento. Ele encarava tudo como parte do trabalho. "Para mim, o fato tinha que ter penetração. Não imaginava que aquilo ali já se concretizava um abuso sexual. Estava tão condicionado com aquilo, que não me machucava, não me violentava, eu bloqueava."

Os abusos aconteceriam de forma dispersa. De acordo com Roger, Cid podia cometer o ato três vezes por semana, ou quatro, ou nenhuma. "A gente sempre ficava no mesmo quarto [de hotel]. E nunca iam desconfiar. Se o filho é teu, é normal. Agora, se ficar no quarto com um garoto de 15 anos, pode gerar uma desconfiança. Era assim", relatou.

A situação teria durado até 2000, quando Roger tinha 24 anos --mais ou menos a mesma época em que a adoção foi concretizada. "Era tratado como filho desde sempre, mas o documento oficial só em 2001, quando já tinha 25 anos. Fiquei morando lá com ele até 2006."

Desejo por última conversa

Apesar de tudo, Roger disse ter pena do pai. "Ele tinha um problema, vício por sexo. Isso foi o que ocasionou que Fátima também conseguisse manipulá-lo durante todo esse tempo", defendeu ele. O profissional de beleza gostaria de ter falado com o jornalista antes de ele morrer --o último contato deles foi por e-mail, em 2014, quando Cid anunciou que pretendia deserdá-lo.

"Gostaria de falar daqueles abusos. Para mim, é uma coisa encerrada, não é algo que alimento com ódio. As pessoas falam: ‘você tem ódio dele porque ele era abusador?’ Não, não tenho ódio. Mas é óbvio que me causou algo, hoje em dia sou meio assexuado. Era um direito nosso ter esse contato com ele, mas a Fátima nunca permitiu", declarou.

Roger recebeu a notícia da morte do pai adotivo em meio a rotina atribulada de trabalho. Ele cuida da caracterização dos atores de Mania de Você, especialmente no que se refere ao alongamento de cabelo --caso de Chay Suede e Nicolas Prattes. Agora, ele se dedica a reverter o testamento deixado pelo pai, que excluía tanto ele, quanto o irmão, Rodrigo Razendev Simões Moreira, do direito à herança.

O profissional de beleza, aliás, nunca havia falado sobre os abusos ao irmão. "Não tinha contato com Rodrigo, ele nunca participou da casa. Cid sempre detestou ele. O único contato que Cid teve com ele foi aos 2 anos e um outro com 9. Cid sempre odiou ele, mas nunca soube porquê. Tinha comentários de que ele era gordo, vagabundo, que não trabalhava… Conheci o Rodrigo recentemente, em 2021. E mesmo agora, a gente tem vidas diferentes".

O que diz Cid Moreira?

Cid Moreira sempre se defendeu das acusações do filho adotivo. O comunicador disse que Roger Naumtchyk está lhe "perseguindo" e "inventando histórias que nunca aconteceram". Eles travavam uma briga judicial que chegou ao fim em 2022, quando a Justiça decidiu que não houve abandono parental. Naumtchyk havia dito que foi deserdado pelo pai após se assumir gay.

"Ele está insistindo nisso aí há mais de 15 anos", criticou Moreira, em entrevista à Caras. "Isso aí já foi julgado e arquivado. Estou encaminhando para 97 anos, não tenho mais condição nenhuma de estar enfrentando essa palhaçada. A Bíblia diz que o filho que insurge contra o pai merece ser morto", disparou.

Como ele está a fim de dinheiro, ele fica enchendo o saco. Ele está querendo dinheiro e um pouco de fama. Aí cria essa coisa da mídia falando.